Pé-de-moleque

Standard

O pé-de-moleque é um dos doces mais tradicionais do Brasil e muito popular em Minas Gerais e no Nordeste. Sua origem remonta à influência árabe na Península Ibérica. Em Portugal é conhecido como nogat e no sul da Espanha como turrón, porém na Europa a receita era feita com mel de abelhas. A partir da introdução do plantio de cana-de-açúcar no Brasil Colônia, o doce passou a ser feito com o melaço da cana, que deixado endurecer é conhecido como rapadura. Sabe porque tem este nome? Nos tempos do Brasil colonial, as cidades mais ricas, como Ouro Preto e Paraty, eram calçadas com pedras redondas e uma mistura de argamassa à base de areia de rio. A este tipo de calçamento rude deram o nome popular de calçada pé-de-moleque, pois as pedras eram assentadas por moleques (garotos adolescentes) que usavam os pés para ajeitá-las no lugar.

Nas festas juninas mineiras e nordestinas, quando se comemora com grandes festas os dias de Santo Antônio (13/06) e de São João (24/06) este docinho não pode faltar. Hoje vamos dar a receita do pé-de-moleque original, que também tem o nome de “quebra-queixo” e ainda sugerir algumas variações.

Pé-de-moleque original

Para 8 doces separe 350 gr. de amendoim inteiro sem casca e 350 gr. de rapadura, ou seja, 1 1/2 xícara de chá cheia de cada um, considerando a rapadura já quebrada em pedacinhos.

Torre o amendoim em uma panela, virando de um lado para outro para que fique corado por igual. Enquanto isto, derreta a rapadura com água em outra panela, com a água no nível certo de cobrir os pedaços. Assim que a calda de rapadura estiver começando a fazer bolhas, junte o amendoim e continue batendo, sem parar e com energia, com uma colher de pau, até que o doce comece a soltar das beiradas. Retire a panela do fogo e coloque-a em uma bacia grande com água e continue batendo energicamente o doce até que a massa fique esbranquiçada. Já está no ponto de ser retirado da panela às colheradas.

Limpe bem uma bancada fria, ou uma assadeira, e passe um pouco de óleo ou manteiga na superfície. Coloque as colheradas do doce, como na foto. Deixe esfriar bem antes de retirá-los.

Nesta receita original o doce fica bem puxento. Se preferir fazê-lo sem puxa e mais macio, substitua a água por leite – este é o modo mais comum do doce ser encontrado à venda e o jeito preferido dos mineiros.

Há variações da receita – pode-se usar leite condensado ao invés de leite ( fica muito doce e enjoativo) ou pode-se usar leite de coco para quem tem intolerância à leite- nesse caso fica puxento por causa da gordura do leite de coco.

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.

Veja abaixo o pé-de-moleque feito com leite e cortado em tamanho menor para a Festa de São João:

IMG_2388

Doce de abóbora com coco

Standard

Monte Verde é um encantador vilarejo turístico situado ao Sul de Minas, a hora e meia de distância da cidade de São Paulo, que conta com ótimo parque hoteleiro e bons restaurantes. A diversão é caminhar pela lojinhas de artesanato da rua principal e comprar artigos de inverno e produtos da região. Todas as vezes que lá vou, não resisto- volto carregada de doces, biscoitos, chocolates, queijos, frios, licores e ainda renovo o meu guarda-roupa. Da última vez, o que mais fez sucesso em casa foi o famoso doce de abóbora moranga com coco. Fiquei triste o dia que comi o último pedacinho e então resolvi faze-lo em casa. Ficou bom demais, como diz o mineiro.

Doce de abóbora moranga com coco

Escolha uma abóbora moranga daquelas que têm o interior de cor laranja bem forte. É preciso estar madura, para que esteja doce. Para 1/2 abóbora média, compre um coco maduro. Separe uma xícara de chá de açúcar cristal.

DICA: Para partir o coco, coloque-o diretamente sobre a chama do fogão até sapecar os pelinhos da casca de todos os lados.  Como parto o coco? Do mesmo modo que fazia quando criança – vou até o quintal e jogo-o com toda a força no chão de pedra! Retiro a noz da casca dura e pico o coco em pedaços pequenos (não retiro a pele marrom). Se for fazer alguma sobremesa cremosa descasque a pele marrom com uma faquinha.

Descasque a moranga e pique-a em cubos. Tome uma panela funda e coloque o açúcar. Espere que derreta e junte a moranga. Deixe no fogo fraco, mexendo de vez em quando até formar uma pasta homogênea. Mexa com uma colher de pau até começar a desgrudar da panela. Acrescente o coco e misture. Deixe esfriar.

Dica: se quiser o doce no ponto de comer de colher, o ponto na panela é o de geleia. Se quiser o ponto de partir com faca, deixe mais tempo, até ficar escuro e difícil de não grudar no fundo da panela.

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.

 

 

Pudim de claras

Standard

Esta é mais uma das deliciosas receitas de sobremesa tradicional mineira cuja origem é portuguesa. Tem um detalhe interessante – diferente do Quindim, do Papo de anjo, dos Pastéis de Belém e de Santa Clara, dos Ovos moles e de tantas outras sobremesas feitas com gemas, este pudim é feito só com claras. Contam que em Portugal as freiras dos conventos engomavam com claras de ovos seus hábitos, as roupas dos padres e dos bispos e ainda as toalhas usadas nas liturgias da igreja. Como sobravam muitas gemas, inventaram muitos doces para aproveita-las. Só que um dia pode ser que não tinha mais roupa para engomar e resolveram usar as claras para fazer pudim! Tem outra peculiaridade interessante: para o pudim crescer é melhor que seja feito na semana da lua cheia! A receita é muito fácil mas tem de ser bem feita.

Pudim de claras

Para o pudim vai precisar de 10 claras e de 2 xícaras de chá cheias de açúcar refinado. Tem gente que junta às claras um tico de sal. Na minha receita particular eu gosto de misturar ao merengue as raspas de 1 limão tahiti para quebrar um pouco o sabor muito doce. Para a calda vai usar 1 xícara de chá de açúcar e 1/2 xícara de água fervente.

É necessária uma boa batedeira (eu uso a Planetária da Arno) ou um pulso muito forte! Bata na velocidade 5 as claras em neve, bem firmes. Baixe para a velocidade 3 e vá acrescentando o açúcar até obter um merengue denso e perfeito. Misture as raspas de limão com uma espátula, levemente.

Ligue o forno a 180 graus e esquente 1 litro de água para o cozimento do pudim no forno, no processo chamado de banho maria. Separe uma forma de número 22, daquelas de furo no meio e uma assadeira alta que caiba a forma.

Faça a calda de açúcar. Coloque o açúcar em uma panela e mexa sem parar com uma colher até que o açúcar derreta por igual e tome a cor de caramelo. Despeje a água quente (cerca de 1/2 xícara de chá) pelas beiradas, com cuidado, e deixe que incorpore ao açúcar até obter uma calda líquida e cristalina. Desligue. Imediatamente, tome a forma e deite a calda dentro dela, de modo a deixa-la forrada com uma camada de calda nas laterais e no fundo. Use um pincel grosso para espalhar bem. Despeje o merengue, bata nas laterais para a massa se acomodar e nivele. Coloque a forma na assadeira e esta no forno. Despeja a água quente na assadeira até 1 dedo abaixo da borda. Deixe assar por cerca de 25 minutos ou até ver que o pudim ficou levemente corado, de cor rosada. Retire do forno e coloque a forma sobre o fogão ou em uma superfície que não seja fria. Deixe esfriar. 

Coloque a forma na geladeira coberta por filtro plástico até pouco antes de servir. Então passe uma faca molhada (sem água escorrendo!) nas bordas externas e internas para soltar o pudim. Escolha um prato de bolo e coloque-o sobre a forma. Vire o conjunto. Se a calda ficar no fundo da forma, esquente-a ligeiramente e derrame-a sobre o pudim. Se não for servir imediatamente, volte para a geladeira.

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.

Manjar de côco com calda de ameixa

Standard

Quem já leu histórias do tempo do Brasil Colônia deve ter encontrado alguma descrição das sobremesas famosas nesta época.

Alguns ingredientes eram abundantes por aqui, como o açúcar, o leite, o côco, o milho e diversas frutas nativas. Desde o século 16, a economia brasileira tinha o açúcar como principal produto de exportação. O costume de se beber leite e usá-lo na preparação de alimentos veio com os portugueses colonizadores que importaram gado leiteiro para o Brasil. O côco veio das costas d’África, junto com os escravos. A palmeira ou coqueiro se aclimatou tão bem no país que em pouco tempo já fazia parte da paisagem de nossas praias como se nativo fosse.

Uma destas sobremesas, bem popular, era o manjar feito com leite e açúcar, posto a secar por horas, em tacho de cobre no fogão a lenha. Depois que encorpava, acrescentava-se o leite de côco e o amido de milho (nativo do Brasil) para engrossar. Como calda, fazia-se uma compota de ameixas, fruta muito comum no país.

Desde os anos 1950 o consumo de leite condensado popularizou-se, facilitando a nossa vida. Também tem-se o leite de côco já pronto, mas o manjar feito com o côco natural é muito mais gostoso. As ameixas também já são vendidas secas, basta colocá-las a cozinhar mais um pouquinho em uma calda de açúcar queimado.

Manjar de côco com calda de ameixas

Veja os ingredientes que vai usar: 1 lata de leite condensado, 2 latas de leite integral (use a mesma lata como medida), 1 xícara de chá de leite de côco natural* e 4 colheres de sopa cheias de amido de milho ( Maizena)

Bata tudo junto no liquidificador. Leve a mistura ao fogo médio, mexendo sempre com uma colher de pau até dar consistência de mingau grosso. Vai levar cerca de 20 minutos para cozinhar.

Escolha uma forma dessas de furo no meio e passe em seu interior um cubo de gelo. Escorra o excesso de água. Despeje o mingau, deixe esfriar e depois leve à geladeira por cerca de 4 horas.

Para o preparo da calda, tire o caroço de 15 ameixas pretas ( empurre o caroço para fora, sem cortar). Faça um calda rala de açúcar queimado e junte as ameixas, deixando que cozinhem mais um pouco.

Sabe fazer a calda de açúcar? Ponha água para esquentar em um caneco. Coloque em uma frigideira 5 colheres cheias de açúcar cristal e deixe que derreta, misturando sempre com uma colher de pau. Assim que ficar da cor de caramelo, abaixe o fogo e vá entornando a água quente devagar pelas bordas. Continue misturando até o açúcar derretido dissolver por completo e formar uma calda rala.

Dica- leite de côco caseiro

Compre um côco maduro, ou seja, já marrom e peludinho. Fure-o e retire a água. Quebre-o (eu acho mais fácil jogá-lo no piso de pedra, mesmo que seja da calçada!) Estando partido em dois ( ou mais) pedaços, coloque-os sobre a chama do fogão até chamuscar.Tire do fogo, deixe esfriar um pouco e com a ponta de uma faca solte a noz branca. Retire a pele marrom com uma faca. Corte o côco branco em fatias finas. Bata-as no liquidificador com água quente – o nível é a conta de cobrir o côco. Tome um pano de prato limpo e esterilizado – daquele tipo de pano de saco – e coloque o líquido dentro, como se fosse dentro de um saco. Esprema, ainda morno, sobre um caneco. Pronto! Você tem um leite de côco maravilhoso!

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.

 

 

Ambrosia – o manjar dos deuses

Standard

A palavra “ambrosia” significa divino e imortal. Segundo a mitologia grega, era o alimento dos deuses do Olimpo que os tornava imortais. Também teria poder de cura para o comum dos mortais que o provasse. Na tradição gastronômica portuguesa – e há séculos entre os doces tradicionais de Minas Gerais – é um doce feito com leite, açúcar e ovos. Era a sobremesa predileta de meu pai e aprendi a faze-la quando tive altura para alcançar um fogão.Existem várias versões, dependendo da quantidade de açúcar e ovos que se acrescenta o leite e do tempo de cozimento. Esta versão, como é feita na minha família há muitas gerações, é originária de descendentes de portugueses que se estabeleceram no oeste de Minas na segunda metade do século 18. Há muitos anos, quando eu costumava ir a uma fazendinha na roça, perto de Abaeté, cedinho pela manhã o vaqueiro já tirava o leite das vaquinhas, colhia os ovos no galinheiro e os deixava à beira do fogão de lenha para quando eu chegasse. Eu tomava um tacho de cobre e fazia o doce. Ficava realmente divino, encorpado, amarelinho e com um aroma delicioso. Que saudades eu tenho!

Hoje em dia, na falta do leite rico em gordura da roça, procure, nas melhores padarias, 2 litros de leite tipo A. Indispensável. Compre também ovos caipira. A receita original leva 3 ovos mas os ovos estão tão pequenos que já passei para 4. Vai precisar também de 5 colheres de sopa de açúcar cristal para adoçar.

Tome uma panela grande, com 28 a 30 cm de diâmetro e coloque o leite para secar. A dica para o leite não entornar é colocar dentro da panela um pires emborcado para baixo. Deixe ferver por cerca de uma hora e meia em fogo médio ou até o leite adquirir uma cor bege rosada clarinha. Coloque então as 5 colheres de açúcar e mexa com uma colher de pau. Deixe que volte a ferver. Bata os ovos, clara e gema juntas, com um batedor de ovos de arame, até que fique espumoso. Derrame leve e rapidamente sobre o leite, de modo a cobrir toda a superfície. Abaixe o fogo. Deixe a espuma de ovos cozinhar até que o leite comece a cobri-la. Com uma escumadeira, vá virando com carinho as partes que começam a submergir. Não deixe que o ovo endureça, assim que ficar amarelo clarinho, desligue. Deixe esfriar na panela e depois coloque em uma bonita travessa.
Sirva frio e,se gostar, polvilhado ligeiramente com canela.

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.