Calzadilla – a tortilla perfeita

Standard

Continuando nossa caminhada pelo Caminho de Compostela, saímos bem cedinho de Sahagún para alcançar Calzadilla de la Cueza na hora do almoço. O espanhol típico começa a trabalhar por volta de oito/nove horas da manhã e segue até o meio dia / uma da tarde. Então fecha o seu estabelecimento – mesmo que este seja um restaurante ou lanchonete! – e vai para casa almoçar. Depois, vem a sagrada “siesta” e só voltam a abrir o comércio e os escritórios depois das quatro da tarde, para fechar às sete horas. Depois deste horário permanecem abertos somente os restaurantes. Pois em Calzadilla fomos fazer um lanche – que na verdade foi um almoço – quase às três da tarde! Talvez porque nossa fome era muita achamos tudo uma maravilha!

 

Os destaques foram os pães caseiros, o fantástico queijo de cabra da região e os diversos embutidos – jamon ibérico (presunto defumado de porco), cecina (defumado de carne de vaca famoso desta região), chorizo (tipo copa) e um outro do tipo do salaminho italiano. Como já nos aproximávamos da Galícia, apareceram a maionese de atum e o bolinho de bacalhau, iguais aos que minha avó materna fazia ( seus avós eram portugueses do Norte, já perto da Galícia) e tão comuns em Minas Gerais. Os ingredientes da maionese são: ovos cozidos, batatas, azeitonas verdes, atum desfiado e a própria maionese ( bate-se o ovo com o azeite no liquidificador em baixa velocidade).

Porém, o sucesso do dia foi a tortilla mais linda e mais gostosa que já comi. E olha que já provei tortilla pelos quatro cantos da Espanha! Bem grande – uns 30 cm. de diâmetro e bem alta – uns 7 cm de altura e muito, muito fofa. Perguntamos ao simpático dono do restaurante a receita – claro que a princípio não quis nos dar. Mas fizemos tantos elogios e insistimos tanto que ele acabou por chamar o cozinheiro para explicar como fazer. Surpresa: era um brasileiro!  Eis como ele nos passou a receita: bate os ovos, junta com as batatas cortadas na frigideira, tempera com sal. Espera corar e vira do outro lado. Parece fácil, não é? Porém, tem detalhes…

Receita da famosa Tortilla de Calzadilla (por minha conta) 

É necessário que se tenha uma panela especial – ou melhor, são duas frigideiras que se encaixam – como estas omeleteiras, só que tamanho gigante ( espiei e vi-as na cozinha!) Cortam-se as batatas em lascas finas (ele não disse mas eu sei que há de se enxugá-las envolvendo-as e apertando-as com um pano). Batem-se os ovos ( também sei que bate-se primeiro as claras até dar volume e depois vai-se juntando as gemas). Unta-se a frigideira ( já ligeiramente aquecida com azeite, a conta de formar uma fina camada em todo o interior). Deita-se a terça parte dos ovos batidos, salpica-se o sal, coloca-se a metade das batatas sem sobrepô-las, mais um salzinho. Repete com a camada de ovos, sal , batatas, sal. Finaliza com os ovos. Isto tem que ser feito muito, muito rápido. Aí está o segredo! A esta altura a tortilla já está corada no fundo, então se emborca a outra frigideira e vira as duas juntas para corar do outro lado (haja força nos punhos!) Experimente fazendo uma pequena, mas se não ficar tão bonita como a da foto, console-se – é necessário muita prática! Vai treinando…

De sobremesa, veio uma tortinha deliciosa – massa feita com farinha de trigo, amêndoas, leite, açúcar e manteiga. Como recheio, maçãs. Você pode usar outras frutas ou geléias. É uma receita bem comum na Europa e fica para outro dia.

 

Frómista – Lechazo ou cordeiro de leite assado

Standard

Hoje iniciamos o primeiro trecho de nossa peregrinação pelo Caminho de Santiago. Na verdade, confesso, não me sinto uma peregrina, sou apenas uma caminhante, apesar de carregar comigo o cajado e a concha -os símbolos do Caminho – e de seguir, com bastante disposição e coragem, as setas amarelas que nos conduzirão ao destino final.

Seguindo pelo “Caminho francês”, de Burgos a Frómista são ao todo 85 km. Destes, percorremos a pé, durante a manhã, o trecho final entre Boadilla del Camino e Frómista, margeando o Canal de Castilla. A caminhada é muito agradável. O terreno é plano, a ampla vista dos verdejantes campos agrícolas contrastando com o descampado do céu profundamente azul é belíssima. A proximidade da água torna parte do caminho fresco e sombreado. Respira-se ar puro, um suave aroma de mato purifica nossos pulmões e o incessante e festeiro chilreio dos pássaros enche nossa alma de alegria.

Após duas horas de caminhada paramos para apreciar a vista, beber água límpida de poço e saborear deliciosas maçãs colhidas no pé – achei incrível! Mais adiante, outra parada para nos refrescarmos sob as frondosas árvores que cercam o dique e reunir coragem para avançar colina acima até Frómista, pensando na recompensa do delicioso almoço a nos aguardar!

Frómista é pequena e muito simpática.  Tem um casario antigo pintado em cores ocres, uma bela igreja românica – a igreja de San Martin, que neste estilo é a mais original e bem conservada de toda a Espanha – e outras construções milenares, erguidas sobre ruínas dos tempos dos romanos. Se gostar de um lugarzinho bem pacato, vá morar lá, é perfeito!

No restaurante Villa de Frómista nos aguardavam surpresas maravilhosas. Para começar, um bom vinho branco refrescante servido com morcilla ( embutido de carne, gordura e sangue de porco, de cor bem escura) . Como primeiro prato, salada e langostinos ( camarões gigantes) grelhados na brasa e servido ao ajo & aceite (alho e azeite de oliva)

O prato típico da região é o lechazo, o cordeirinho de leite ( ainda não desmamado ao ser abatido) assado no forno a lenha, como aqueles de tijolos em formato de semicírculo que se usa para assar pizza.  A carne é muito macia e saborosa. Batatas fritas são o acompanhamento tradicional. Com estas há de se tomar cuidado pois, crocantes por fora e derretendo na boca ao serem mordidas, dá vontade de nunca parar de comê-las. De sobremesa, arroz com leche ( igual ao nosso arroz doce mineiro) e flan de huevos ( pudim de leite com ovos). Comemos bastante, sem arrependimento – afinal havíamos gasto muitas calorias com a caminhada da manhã!

 

 

Galeto afogado na cerveja

Standard

Galeto é o nome que damos em português para o franguinho abatido com menos de um mês de vida. Esta receita pode ser feita também com um frango inteiro ou com partes do frango e ainda com outras aves de pequeno porte, como codornas – o que, hoje em dia, é muito difícil de se achar para comprar. Seu preparo é básico, fácil e simples, ideal para os iniciantes na cozinha. O segredo é assar o galeto ou frango na cerveja, de preferência uma bem forte, espessa e escura. Aqui neste preparo usamos uma cerveja belga bem tradicional – a Chimay rótulo azul, produzida na Abadia de Scourmont.

Galeto temperado com ervas, assado na cerveja e acompanhado de batatas e cebolas

Para 2 pessoas compre 1 galeto, 2 a 3 cebolas e 6 a 10 batatas baby, dependendo do tamanho. Escolha um cerveja de 330 ml e as ervas verdes frescas para tempero: salsinha, cebolinha, podendo acrescentar um pouquinho de sálvia ou de alecrim. Para o tempero, misture em 1/2 xícara de chá de água: 1 colher de chá de sal, 1 a 2 dentes de alho triturados e 2 colheres de sopa cheias das ervas picadinhas. Reserve outro tanto igual de ervas picadas para finalizar. Passe o galeto na água fervente para limpá-lo bem. Despeje o tempero dentro de um saco plástico e coloque o galeto dentro. Vire de um lado e outro até certificar-se que o galeto está todo envolto no tempero. Deixe dentro do saco por 1 hora ( se estiver fazendo calor coloque-o na geladeira).

Pré-aqueça o forno a 250 graus. Tome uma assadeira e coloque nela o frango com o tempero, escorrendo a água. Despeje toda a cerveja. Leve ao forno a 200 graus até que a cerveja reduza à metade e o frango comece a amaciar. Retire, vire o galeto do lado contrário ao que estava, coloque as batatas, salpique sal sobre elas, cubra com as rodelas de cebola e torne e colocar sal. Regue tudo com a cerveja e o restante das ervas e volte ao forno.

Vigie o assado até que tudo esteja macio e corado. O tempo total de cozimento pode variar de 20 a 30 minutos. Então já estará pronto para servir! Acompanhe com salada de rúcula, fica perfeito!

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimi-lo.

 

Bacalhau fresco – experimente!

Standard

Para nós, brasileiros e portugueses, falou-se em bacalhau já sabemos que se trata do peixe seco e salgado. Esta tradição de salgar o peixe originário dos mares gelados do Norte, sobretudo da Escandinávia, passa de milenar. Como na época da pesca havia muita fartura de peixe fresco e o sal e o sol nas costas de Portugal eram certeiros e quase de graça, lá despejavam toneladas de peixe para secar e salgar, a fim de serem comercializados posteriormente, durante todo o ano. Havia – e há – peixes de vários tipos, mas ficaram conhecidos sob o nome genérico de bacalhau. Por muitos anos, até recentemente, peixe seco era comida de pobre. Na nossa geração, o bacalhau chegou a tal valor que tornou-se prato de luxo, preparado no Natal e na Páscoa. Quanto a isto, eu, que amo bacalhau, acho que nasci na época errada!

Dia destes, uma amiga de minha filha ganhou um bacalhau fresco e não sabia o que fazer. Como já tínhamos o blog, pediu-nos uma receita. Sabe o que fizemos? Oferecemo-nos para preparar o peixe! Foi uma noite muito agradável, pois fora o papo na cozinha, todo mundo comeu, adorou e ainda levaram para casa! Vai aí a receita para prepararem junto com os seus amigos.

Bacalhau fresco ao creme de três batatas

Calcule de 200 a 250 gr. de bacalhau por pessoa. Para 1 quilo de peixe separe para o molho: 3 pimentões, um de cada cor: vermelho, verde e amarelo; 3 cebolas pequenas (se forem da roxa, melhor), azeitonas verdes e pretas sem caroço e fatiadas, a gosto.  1 colher de molho de tomates bem encorpado,  1 xícara de café de vinho tinto. Para o creme: 1 a 2 batatas inglesas, a mesma quantidade de baroa e a mesma quantidade de batata doce.

Preparo do bacalhau: lave e seque o peixe, fatie-o em postas grandes, se der, de uns 6 por 6 cm. Tempere apenas com sal. Reserve.

Preparo do molho: corte os pimentões e as cebolas em fatias bem finas. Despeje um fio de azeite sobre uma frigideira e frite tudo. Assim que estiverem fritos, misture o molho de tomates. Coloque sal e gotas de molho inglês e prove. Despeje o vinho e deixe ferver por 5 minutos. Acrescente as azeitonas. Retire do fogo e reserve.

Preparo do purê: cozinhe as batatas na panela de pressão até ficarem bem macias (deve contar 15 minutos depois que começar a apitar). Retire as peles e amasse-as com um garfo até formarem um creme liso e homogêneo. Em uma panela, despeje  3 colheres de azeite e passe a mistura de batatas, mexendo bem, com uma colher de pau, sempre no mesmo sentido, até que comece a soltar das laterais. Junte aos poucos 1 xícara de leite e continue mexendo até dar ponto de purê. Tempere com sal e pimenta do reino branca. Misture bem. Retire do fogo e reserve.

Deite o bacalhau sobre o purê

Deite o bacalhau sobre o purê

Cocção: Escolha uma travessa refratária que vá caber tudo. Coloque todo o purê no fundo da travessa. Disponha sobre o purê as postas do bacalhau (que ainda está cru).  Leve ao forno pré-aquecido a 250o. Assim que o bacalhau ficar branco, retire do forno e cubra com o molho. Volte para o forno até certificar-se que está tudo quente.

Sirva com arroz branco à parte.

Quer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimí-lo.

Tortilla de batatas espanhola

Standard

Tortilla (pronuncia-se tortilha) é uma guarnição muito popular na Espanha. É preparada de muitas formas, conforme região ou receitas de família.  Aprendi a fazer a tortilla do norte da Espanha com um chef de Oviedo, uma cidade antiga, linda e pitoresca que fica no Principado das Astúrias. A região tem uma culinária famosa e tradicional com pratos deliciosos como a Favada e a Calderada, cujas receitas vamos publicar mais para a entrada do inverno. É também a região da sidra e de queijos, salames e embutidos de sabor forte.

Tortilha de batatas

Você vai precisar de batatas, cebolas e ovos para o preparo da tortilha básica.

Há duas maneiras de fazê-la: na frigideira e no forno. O espanhol tem uma frigideira especial que já vem com as formas circulares côncavas para fazer quatro tortilhas de uma só vez (parecida com estas de fritar ovos separados) Como aqui não temos este tipo de panela, vamos fazer no forno mesmo.  Veja então se tem uma assadeira antiaderente funda e pequena.

Para 2 pessoas separe 2 batatas, 4 ovos e 1 cebola.  Cozinhe as batatas na água com sal, ao dente, ou seja, é preciso que fiquem ainda um pouco duras para que, ao partir, não se quebrem. Despele e reserve. Bata as claras com as gemas e coloque uma pitada de sal. Corte a cebola em fatias finas. Passe um pouco de azeite no fundo da assadeira.

Agora vamos colocar os ingredientes dentro da assadeira formando camadas. À medida que for cortando a primeira batata, em fatias com espessura de ½ cm. , vá colocando-as lado a lado de modo a formar uma camada. Salpique pimenta do reino, se gostar. Cubra a camada de fatias de batata com a cebola fatiada. Espalhe os ovos batidos por cima. Cubra com outra camada de batata e passe o azeite. Salpique a pimenta. Se for fazer a tortilha para mais pessoas, repita as camadas, de modo que a primeira e a última sejam sempre de batatas.

Leve ao forno pré-aquecido a 200/250o por 15 minutos ou o tempo suficiente para as batatas corarem. Retire a assadeira do forno. Para desenformar em tortilhas circulares: com um anel de metal de circunferência de 8 a 10 cm. * faça orifícios na  tortilha que preparou na assadeira. Coloque uma tábua de cortar sobre a assadeira e vire-a emborcada para baixo. Separe com a faca os excedentes fora dos círculos e transfira as tortilhas para o prato que irá servir. É uma ótima preparação para colocar carne por cima.

Se não estiver a fim de tomar trabalho, faça a tortilha em uma travessa refratária, leve ao forno e sirva na própria travessa. Afinal, o gosto não vai mudar…

Variações da tortilha:

1- Acrescente cheiro verde aos ovos.

2- Acrescente uma camada de bacon cortado bem miúdo e já frito.

3- Cozinhe e frite uma boa linguiça de lombo ( ou de frango). Abra-a cortando ao comprido. Retire os pedacinhos de carne e acrescente uma camada deles à tortilha.

4- acrescente uma camada de cenoura ralada. Pode colocar também outros legumes firmes, como vagem cortadinha.

* Faça seu aro de metal aproveitando uma lata de sardinha dessas redondas e baixas. Puxe a tampa do lado de cima como recomendado na embalagem. Abra o fundo da lata com um abridor de latas. Martele as beiradas para que não corte os dedos ao usá-la mas, mesmo assim, tome cuidado!

Sal com AlhoQuer esta receita impressa? Clique aqui para baixar o PDF e imprimí-lo.