Nos países de cultura espanhola e portuguesa, como no Brasil, comemora-se o Dia de Reis em 6 de janeiro de cada ano. Na Espanha, as crianças não recebem presentes no dia de Natal. É costume colocarem seus sapatinhos na janela à espera que os Reis Magos lhe tragam presentes, como os deram ao Menino Jesus. Ontem, comemoramos o Dia de Reis em família, como fazemos todos os anos, relembrando e passando aos mais novos as nossas tradições. O Bolo de Reis e a simpatia das romãs fazem parte da comemoração.
Quem sabe da história? Pois vou contá-la a quem não sabe, tal qual a conheço desde criança, transmitida há centenas de anos de uma geração a outra.
Há mais de dois mil anos, em diferentes partes do Oriente Médio, três reis sábios, que como magos eram também astrólogos, perceberam no céu uma estrela cadente de brilho espetacular. Estudaram o evento e chegaram à conclusão que a passagem deste cometa marcava um fato extraordinário: nasceria uma criança predestinada a guiar os homens.
Seguindo o caminho que indicava a estrela, o jovem Rei Gaspar, que teria cerca de 20 anos, partiu da Pérsia, às margens do Mar Cáspio, levando como oferenda, à criança que nasceria, o incenso, uma resina vegetal valiosíssima e usada, há milênios, para louvar os deuses e reis. O ato de louvar é sinal do mais elevado amor, respeito e consideração.
Pelo caminho, encontrou-se com o velho Rei Melquior, já com cerca de 70 anos. Havia partido de Ur da Caldéia, o berço da civilização, avisado pela mesma estrela. Este rei trazia ouro como oferenda, simbolizando seu desejo de trazer riqueza de espírito à criança que viria ao mundo.
Mais à frente, as duas caravanas encontraram-se com uma terceira, a do rei mouro Baltazar, que contaria 40 anos, vindo do Golfo Pérsico. Este rei trazia, como presente à criança, a mirra, uma planta medicinal de muito valor, que curava todos os males e era usada há milênios para embalsamar as múmias egípcias. Significava a esperança da vida eterna.
Os três reis magos prosseguiram viagem juntos, sempre guiados pela estrela. Chegando à Palestina, foram recebidos pelo Rei Herodes. Perguntaram ao rei onde havia nascido o menino mas este, assustado com a notícia, nada soube dizer. Desanimados, retiraram-se de Jerusalém mas eis que, ao anoitecer, a estrela volta a brilhar no firmamento, a indicar-lhes o caminho até Belém. Lá chegando, os reis encontraram, para sua grande surpresa, um bebezinho recém-nascido em uma manjedoura, tendo ao seu redor o pai, José, a mãe, Maria, alguns pastores e seus animais. Porém, apesar do nascimento humilde, não tiveram dificuldade em reconhecer o nascimento de um filho de Deus, pois a estrela brilhava intensamente sobre a choupana, iluminando a face do Menino Jesus. Depositaram então a seus pés, os presentes trazidos de muito longe: o incenso, o ouro e a mirra. Rememoramos este evento, a cada ano, fazendo uma oração aos Reis Magos e ao Menino Jesus.

A romã é uma fruta originária do Oriente Médio e desde milênios considerada uma fruta sagrada, associada ao amor, à fertilidade e à riqueza e de conhecidos benefícios à saúde. Assim fazemos a simpatia da romã: toma-se nove sementes na palma da mão; três são jogadas para trás, deixando no passado e no esquecimento o desamor, a penúria e as doenças; três são mastigadas e engolidas, para estar em nosso íntimo o amor a Deus e ao próximo, a riqueza e a saúde; as três últimas são guardadas para conservar conosco a lembrança de fazermos sempre o bem e o melhor que possamos em todas as situações. Costumamos guardar as três sementes enroladas em uma nota de dinheiro. Todo ano, jogamos na terra as sementinhas secas do ano anterior e guardamos as novas no mesmo lugar, conservando esta tradição. Faço isto desde pequena e da vida não posso me queixar, muito pelo contrário, só tenho a agradecer!
Ao entardecer, ao surgir a primeira estrela no céu, rezamos diante das pequenas imagens do Reis Magos e fizemos, junto à família e amigos a simpatia da romã. Brindamos com um bom vinho e distribuímos entre nós as fatias do Bolo de Reis, preparado com muito carinho pela filha blogueira. Aqui segue a receita para vocês também comemorarem conosco as nossas tradições. Ainda é tempo!
Bolo de Reis
Separe 3 tigelas, uma forma de pizza de 30cm e as prendas*
Ingredientes: 5 xícaras de chá de farinha de trigo, 2 tabletes de fermento biológico fresco, 1 xícara de chá de açúcar (branco ou mascavo), 1/2 xícara de café de leite, 5 ovos, 3 colheres de sopa de vinho do Porto, 2 colheres de sopa de raspas de laranja, 1 xícara de café de azeite. Use essa mesma medida de xícara de café para: nozes picadas, amêndoas picadas e uvas passas pretas e finalmente 1 xícara de café de frutas cristalizadas.
Na primeira tigela misture o fermento com 3 colheres do açúcar e amasse com uma colher até formar uma pasta. Junte o leite morno e 4 colheres de sopa da farinha de trigo. Cubra com plástico filme e deixe descansar em lugar aquecido ( perto do fogão, por exemplo) por 15 minutos. Enquanto isso, peneire 4 xícaras da farinha de trigo na segunda tigela tigela. Na terceira tigela, misture 4 ovos, o vinho e as raspas de laranja e bata rapidamente com um fouet (nome chique do batedor de claras).
Ingredientes ( parte)
Misture fermento e açúcar
Farinha e fermento
Junte os outros ingredientes
Misture as frutas secas
Deixe descansar
Depois de passados os 15 minutos, coloque a farinha peneirada, sobre uma superfície lisa e limpa, fazendo um montinho. Abra uma cavidade no meio, como um vulcão, e coloque 3/4 do azeite e o açúcar. Aos poucos, jogue a farinha das bordas para o meio e vá misturando tudo até ficar uma massa homogênea. Junte então a mistura do fermento e depois acrescente a mistura de ovos, aos poucos. Sove bem a massa. Para sovar, deve esticar a massa, dobrar ao meio, esticar de novo com o punho ou os nós dos dedos, e dobrar novamente, repetidamente. É um ótimo exercício. Adicione as passas, nozes, amêndoas e metade das frutas cristalizadas, até ficar bem distribuído. Se a massa continuar grudando na mão, acrescente um pouco de farinha, aos poucos, até fa massa ficar sólida, mas ainda úmida. Volte com a massa para uma das tigelas, cubra com um pano limpo e deixe crescer por cerca de 1 hora e meia, até que dobre de tamanho.
Faça rolos
Trance
Faça a coroa
Coloque as frutas e pincele com ovo
Asse
e enfeite com a coroa de Reis!
Depois da massa crescida, amasse-a mais pouco na bancada e separe-a em três partes iguais. Se ainda estiver grudando, unte as mãos e a bancada com um pouco de azeite. Faça um rolo de mais ou menos 30 cm de comprimento com cada uma das partes. Faça uma trança, trazendo uma parte ao centro de cada vez, alternadamente. Deixe o início solto, para que trance junto ao fim, formando um círculo. Ajeite e junte bem as pontas, formando uma coroa perfeita.
* Agora é hora de inserir as prendas no interior da massa, tomando o cuidado de depois fechar bem, com os dedos. Na tradição portuguesa, coloca-se uma fava. Quem achá-la, sinal de sorte e será também a pessoa responsável por fazer o bolo no ano seguinte. Ouvi falar também que pode-se colocar um anel, que indicará casamento, uma moeda, para trazer dinheiro, um dedal para não faltar trabalho. Só não se pode esquecer de contar aos convidados o que se pôs dentro do bolo, senão vai ter gente correndo para o dentista!
Por fim, distribua o restante das frutas cristalizadas sobre a massa, pressionando ligeiramente com os dedos para que não escapem. As frutas secas e coloridas representam as pedrarias das coroas dos Reis, portanto, capriche no visual! Bata o ovo restante e pincele-o sobre todo o bolo. Assim, ficará brilhante, com uma cor dourada! Transfira o bolo, com cuidado, para a forma de pizza, untada com o restante do azeite.
Leve ao forno pré-aquecido por cerca de 40 minutos, ou até que esteja corado e assado por dentro.
Sirva ainda morno. Se quiser, faça como os espanhóis e enfeite-o com uma coroa de papel colorida!
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