Jantar português

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De volta à Europa, em nosso passeio gastronômico pelo mundo, que tal um retorno às  nossas origens oferecendo um jantar aos amigos com alguns dos pratos mais tradicionais – e deliciosos – da culinária de Portugal? Escolhi algumas receitas bem práticas e fáceis de fazer.

Obs: este artigo foi publicado na minha página mensal do Jornal Primeira Linha em junho de 2018.

 

Culinária portuguesa

Situado na extremidade da Europa, Portugal tem a metade oeste e sul banhada pelo Atlântico, enquanto faz fronteira pelo norte e leste com terras espanholas, em boa parte áridas. Esta geografia, somada às constantes dificuldades econômicas do pequeno país, marcou profundamente a gastronomia portuguesa. Pelo menos há mais de cinco séculos, as ensolaradas costas portuguesas servem de quintal para secar e salgar peixes nórdicos, notadamente noruegueses, consumidos no país e exportados para a América sob a denominação de bacalhau. Do solo português, vêm o azeite fornecido pelas abundantes oliveiras, a batata, a cebola e o alho, relativamente fáceis de serem cultivados, e os produtos de granja e pomar, como ovos, leite e frutas. Somados à farinha de trigo e ao açúcar, largamente importados, esses ingredientes formam a base da tradicional culinária dos nossos colonizadores, que deitaram profundas raízes nos sabores de Minas Gerais. Volte às origens experimentando estas receitas portuguesas.

 

Sopa de tomate com ovos escalfados

 

Perfeita para as noites frias, esta sopa tem como base um molho caseiro feito com tomates bem maduros, sem pele nem sementes, desmanchados na panela com um mínimo de água. Bata no liquidificador e volte para a panela refogando com um fio de azeite, sal e alho. Cozinhe batatas na água com sal, ao dente, e pique-as em cubos. Junte à sopa e deixe terminar de cozinhar. Frite cubinhos de bacon. Faça croutons cortando cubinhos de pão e tostando-os na manteiga com ervas secas. Pique salsinha e cebolinha verde bem miúdas. Estando a sopa aquecida, prepare os ovos escalfados: ferva água em uma panela e agite-a rapidamente, fazendo círculos, apenas em uma direção. Quebre os ovos ( 1 ou 2 para cada porção de sopa) diretamente sobre a água em movimento, no redemoinho formado no centro da panela. Assim que a água borbulhar e a clara tiver branqueado, retire com cuidado. Sirva a sopa imediatamente, bem quente, com os ovos escalfados. Por cima, distribua os croutons, o bacon e as ervas. Acompanhe a refeição com um bom vinho tinto português e o pão de sua preferência.

 

Bacalhau com crosta de broa

 

Juntando a receita do tradicional Bacalhau a Lagareiro com a ideia de cobrir as postas de bacalhau com uma crosta de farinha de broa – como servido no Restaurante Buxa, no Largo das Oliveiras, em Guimarães, Portugal – criei esta nova versão para ser feita com postas altas de bacalhau salgado tipo morua.

Pré-preparo: Para 4 pessoas, dessalgue 800 gr. de lombo de bacalhau, trocando água fria 3 a 4 vezes por dia, por 48 horas. Enquanto isto, deixe 4 broinhas de fubá embrulhadas em papel de pão, endurecendo por dois dias.

Mis-en-place: corte o bacalhau em 4 partes iguais, retirando pele e ossos, com cuidado para não estragar as postas. Separe 8 batatas inglesas cozidas ao dente e despeladas, 12 cebolas pequenas, 4 dentes de alho, 2 ovos e azeite. Corte as cebolas em quatro e pique o alho miudinho. Esfarele as broinhas de modo a obter uma farinha grossa. Reserve.

Preparo final: seque as postas de bacalhau. Derrame 3 colheres de sopa de azeite numa frigideira. Sele (frite) ligeiramente as postas. Retire e reserve. Na mesma frigideira, passe ligeiramente a cebola e o alho, sem deixar dourar. Pré- aqueça o forno a 250 graus. Misture a clara com a gema e pincele todos os lados das postas de bacalhau. Passe as postas na farinha de broa. Tome uma travessa refratária que possa ir à mesa, unte-a com azeite e forre-a com uma farta camada de fatias de batatas. Salpique sal. Cubra com ¾ da cebola. Disponha, por cima e no meio, as postas de bacalhau. Cubra com o restante da cebola e o alho. Regue fartamente com um bom azeite. Polvilhe toda a travessa com uma fina camada da farinha de broa. Leve ao forno a 220 graus para dourar a crosta (sem colocar papel alumínio). Sirva acompanhado de tomates assados e, à parte, arroz branco.

 

Ambrosia

 

O doce é tão delicioso que seu nome significa, em grego, manjar dos deuses. É bastante simples de se fazer mas exige cuidado. Tome uma panela de alumínio grossa e larga e deite a ferver 2 litros de leite fresco tipo A. O fogo deve ser mantido baixo e é necessário vigiar para o leite não entornar. Quando estiver reduzido pela metade e adquirido uma coloração bege rosada, misture cinco colheres de sopa de açúcar cristal. Bata ligeiramente 3 a 4 ovos brancos (retire a pele e a gala das gemas) com um fouet e derrame a mistura rapidamente sobre o leite, em uma camada uniforme. Assim que começar a amarelar e estiver com a consistência de uma esponja mole, corte em cruz com uma escumadeira grande e vire ao contrário cada uma das partes. Banhe com o leite e, estando a esponja de ovos cozida mas ainda bem macia, desligue e cubra a panela com um pano. Depois de frio, passe para uma travessa com delicadeza e coloque na geladeira.

 

Caldo de tomate à portuguesa

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Existem receitas que ficam em nossa memória afetiva para sempre. Quando, na aula de culinária, fiz esta receita para os meus alunos, muitos deles se lembraram da infância, do caldo de tomate com ovos que a avó fazia. E este foi exatamente o meu caso! Poucos dias antes, alguém me perguntou o que eram ovos escalfados e eu me lembrei da sopa da vovó Lana que, aliás, não só preparava para nós esta deliciosa sopa como muitas outras receitas de família, de origem portuguesa. Então, primeiro, aprenda a fazer um ovo escalfado ou, se preferir a tradução francesa, um ovo poché. Veja aqui a dica de como fazê-lo.

Caldo de tomate com ovos escalfados

Primeiro faça um molho de tomates. Se não quiser fazê-lo, pode substitui-lo por tomate pelati italiano em lata (até o item 4)

  1. Compre tomates tipo italiano maduros e perfeitos. Se possível, deixe que acabem de amadurecer ao sol. Costumo fazer o molho com 2 ou 3 kg de tomates.
  2. Lave-os bem e faça em cada um deles um corte superficial em formato de cruz. Em uma panela com água fervente, vá colocando-os em imersão e retirando-os assim que a pele começar a se soltar. Leve-os sob água fria e termine de despelá-los. Corte-os em quatro e retire as sementes e partes brancas.
  3. Coloque os tomates despelados e cortados em uma panela grande. Deixe que desmanchem, sem acrescentar água, até formar uma pasta “pedaçuda”.
  4. Corte bem miúdo uma cebola grande para cada quilo de tomate. Separe uma colher de café de sal com alho por quilo de tomate (vai ficar suavemente temperado). Corte também salsinha e cebolinha verde bem miúdo, na quantidade de uma colher de sobremesa por quilo de tomate.
  5. Em outra panela, deite uma colher de sobremesa de azeite por quilo de tomate e deixe amolecer a cebola. Frite o sal com alho e junte as ervas. Acrescente os tomates já quase cozidos (como vêm na lata de tomate pelati – neste caso, acrescente 1/2 colher de café de açúcar para cada lata, para tirar a acidez). Mexa bem e deixe o molho terminar de cozinhar, acrescentando água fervente, se necessário, até o ponto de molho.

Agora, o Caldo de tomates: 

Para cada pessoa, separe 2 xícaras de molho de tomate e 1/2 batata inglesa já cortada em cubos e cozida ao dente. Leve o molho ao fogo e junte os cubos de batata. Deixe ficar bem quente e então acrescente um pouco de amido de milho misturado com água para obter a consistência de caldo. Mexa bem. Prove o tempero, colocando mais sal e também pimenta, caso queira.

À parte, corte um pedaço de linguiça tipo calabresa* em cubinhos ( o equivalente a 1/2 xícara de café por pessoa), coloque-os para ferver em pouca água e deixe a água secar completamente, de modo que os cubinhos sejam fritos na própria gordura da linguiça.

Corte cebolinha verde (o equivalente a 1/4 de xícara de café por pessoa).

Com o caldo já aquecido e a linguiça e a cebolinha verde já prontas para irem à mesa, em vasilhames separados, faça os ovos escalfados – um para cada pessoa.

Sirva o caldo imediatamente, bem quente, em cumbucas ou pratos fundos, da seguinte maneira: coloque em cada recipiente um ovo, derrame o caldo por cima e enfeite com os cubinhos de linguiça e a cebolinha verde. Sirva acompanhado de pão.

  • Há receitas em que se usa bacon ao invés de linguiça

Ovo poché

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Esta maneira de se cozinhar um ovo é bastante saudável pois não se usa qualquer tipo de gordura, seja óleo, azeite ou manteiga. Na França é muito popular comer-se ovos beneditinos no brunch de domingo ou no pequeno almoço. A receita clássica, também comum nos Estados Unidos, é servir ovos pochés sobre uma fatia de pão coberta com fatias finas de presunto cru ou salmão defumado. Por cima dos ovos, vem uma boa colherada de creme holandês ( feito à base de gemas, manteiga, limão e sal).

Dica de como fazer um ovo poché perfeito:

Separe um ovo, uma panela com cerca de 20 a 25 cm. de diâmetro, uma xícara, um fouet ( batedor de ovos manual com espiral ), uma escumadeira e um pratinho coberto com um guardanapo.

Encha a panela de água até a metade e leve-a ao fogo alto até que a água comece a borbulhar. Quebre o ovo dentro da xícara. Bata energicamente a água com o fouet na posição vertical, rodando-o no sentido horário até formar um redemoinho. Assim que notar um buraco no meio da água, coloque ali o ovo, delicadamente, para não romper a pele da gema. Abaixe o fogo para  a temperatura média e deixe que o ovo cozinhe até o ponto desejado. Retire-o cuidadosamente com a escumadeira e coloque-o sobre o guardanapo para retirar o excesso de água. Sirva imediatamente.