México II

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Alguns dias em nossas vidas tornam-se inesquecíveis – o dia em que conheci esta cidadezinha mexicana certamente foi um desses.

Imagine-se, sob uma chuvinha fina, subindo uma serra com densa vegetação verde no coração do México. De repente, após mais uma curva da sinuosa estrada, vislumbro, entre brumas, uma encosta íngreme derramando casinhas brancas por todos os lados. A primeira impressão é que estão prestes a se despencar e a cair no abismo. O precipício que se vê à esquerda é parte da cratera aberta pela antiga mina de prata. Continuamos devagar a subida. O céu se abre e o sol inunda a serra de luz dourada. Chegamos a Taxco!

Todas as casas morro acima se assemelham e se misturam – as de famílias outrora abastadas e as dos pobres mineradores. Todas as paredes são caiadas de branco. Todas as portas, as janelas, os gradis e as balaustradas das sacadas, sem exceção, são negras. Fora o branco e o preto só há mais uma outra cor nas fachadas das casas: a dos tijolos à vista, emoldurando os portais senhoriais.

Nas rústicas ruas de calçamento de pedra cinzenta os passantes nos olham com curiosidade, de rabo de olho. Vê-se que são gente desconfiada, desviam o olhar e o sorriso. Reparo nas feições: são morenos, de bonitos traços harmoniosos, olhos e cabelos negros brilhantes, faces rosadas, bocas carmim. Quase meio dia, as crianças saem das escolas vestidas com uniformes à moda dos anos 40. Incrível, parece que o mundo aqui parou no tempo.

Prossigo rua acima. As mercadorias nas portas das lojinhas me atraem a atenção. O artesanato textil é coloridíssimo, os finos artigos em prata me encantam. Frutas exóticas enchem o ar de um perfume forte e doce. Sinto um aroma intenso de flores e avanço para a praça principal. A imponente e belíssima fachada rosada da igreja de Santa Prisca me arrebata o fôlego. Depois de um tempo, perdida nos intrincados desenhos do barroco espanhol, abaixo a vista. Nos degraus da igreja, dezenas de mulheres e crianças vendem flores amarelas e alaranjadas – são os cravos de defunto. Passo os olhos ao redor: uma profusão de caveiras me salta aos olhos – são máscaras em manequins que, um ao lado de outro, parecem se abraçar e dar a volta na praça, em um jogo ao mesmo tempo macabro e divertido. Agora me lembro: hoje é dia 1 de novembro, quando se comemora o Dia dos Mortos – o feriado mais importante da cultura mexicana. Um enterro de verdade passa adiante, todos os que seguem a procissão choram e trazem nas mãos buquês de flores brancas. À passagem do féretro, todos se ajoelham, inconscientemente faço o mesmo gesto. O espírito da pequena cidade já tomou conta de mim.

Lembro-me de outra cidade colonial – minha querida Ouro Preto, em Minas Gerais, onde minha avó nasceu. As semelhanças são muitas – ambas centenárias, nascidas a partir da mineração febril de outros tempos, ambas encarapitadas em colinas; o mesmo profundo sentimento religioso, o mesmo povo fechado à primeira vista e amável e hospitaleiro quando reconhece um irmão de alma. Uma diferença: na cidade brasileira as portas e janelas são coloridas, verdes e azuis; aqui, têm o negrume da morte. Uma certeza: se eu fosse mexicana, em Taxco haveria de ter nascido!

Tão logo chegamos, nosso grupo foi recebido pelas autoridades locais e nos foi oferecido um coquetel – uma luxúria de cores e sabores locais. Em seguida, serviram-nos um delicioso almoço, que descrevo no próximo post.

Assim que terminei o almoço, separei-me do grupo – para ter maior agilidade – e percorri as ruelas e becos de Taxco até a exaustão. Não resisti e comprei algumas belas peças de prata – colares e brincos. Na verdade, eu quis comprar muito, muito mais, pois tudo o que vi me encantou. Fiquei tão maravilhada com Taxco que não resisti e, apesar deste ser um blog de culinária, fiz um documentário fotográfico que apresento a vocês. Observem a beleza do barroco colonial mexicano, a fisionomia das pessoas, o colorido artesanato e uma peculiaridade: Taxco é a capital mundial dos fuscas. Curtam as fotos!

 

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